domingo, 6 de julho de 2008

CANTATA -Yeda Prates Bernis


Clevane pessoa e Outras pessoas


Domingo, 6 de Julho de 2008
Yeda Prates Bernis e Cantata



A Coluna de.......... Clevane Pessoa Brasil
Pág. 78






Quando morávamos em S.Luiz, Maranhão,vínhamos a Belo Horizonte todos os anos,e numa dessas vindas,encontrei um livro de Poesias chamado "Pêndula", que comprei e li de um fôlego.Era um dos que Yeda Prates Bernis publicara.Reli-o na viagem de retorno,no avião,embalada por sua verve.Identifiquei-me de imediato, pois meus temas prediletos e recorrentes desfilavam sob meus olhos, escritos por ela.
Emprestei-o muitas vezes,a quem gostava de Poesia verdadeira.Mandei um de presente para a Irmã Josephina de Gusmão,que ainda vive,idosa, no convento em Itajubá e que, no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Itajubá,se não me engano em 1964,eu com dezesseis para dezessete anos, cursando o terceiro ano do que chamavam "Curso Normal"(de normalistas, professorinhas futuras)e publicou a primeira resenha que eu escrevera, "Sapatilhas e Botinas "(ando atrás dessa publicação).

Depois que retornamos, em 1990, de vez em quando,encontrei algum de seus livros para comprar.Meu imaginário fervilhava:onde está essa Poeta? Quem é?...

Fui então, convidada para ministrar uma palestra no curso de Atualizaçao Cultural de D.Selma, no PIC Cidade, aqui em belo Horizonte.

Encontrei uma sala repleta de senhoras muito bem arrumadas e elegantes, sorridentes.Reencontrei uma de minhas colegas do curso de Psicologia, da FUMEC, Terezinha, que vira meu nome na progranação e aparecera para abraçar-me.

Após a palestra, um tema sobre questões de gênero e sexualidade , uma das senhoras levantou-se para dar seu depoimento, externar sua opinião.Olhos verdes faiscantes,mostrava a beleza de jovem que devia ter sido.Ainda dona de um rosto marcante.Ao perguntar seu nome, tive a surpresa:Yeda Prates Bernis, a poetisa que eu tanto buscava nos meandros dessa capital grande , ali, à minha frente...

Conversamos, trocamos figurinhas, eu lhe dei um de meus livros, Sombras Feitas de Luz.

Tempos depois, liguei para sua casa e lhe pedi a doação de alguns livros, para sortearmos na semana da Mulher, que organizávamos, todos os anos, no Hospital Júlia Kubtischeck,onde eu trabalhava.

Imediatamente, ela enviou ao meu consultório duas sacolas com daquelas preciosidades.Generosa,incluiu edições encadernadas, em capa dura,de Grão de Arroz.É nele que Oswaldino Marques,o prefaciador, decreta, no título, ser um livro de ..."HAIKAYEDAS"

Quando meu filho Allez Pessoa,contrabaixista,a pedido da vereadora Elaine Matozinhos,estava organizando a cerimônia do Dia da Mulher, em 2004,que aconteceria no MATRIZ ,uma casa de shown,resolvemos homenagear Yeda, legítima e premiada representante da Poesia da capital mineira.Mais uma vez, ela enviou livros para presentearmos as mulheres e compareceu para receber sua placa. Na data, não pude estar ali e então,ela enviou-me por Alessandro,seu mais recente livro:"CANTATA".

De encdernação dura,na cor vermelha,a antologia tem capa e projeto gráfico de Marconi Drummond,em edição da autora.

Apesar das poesias escolhidas não o terem sido em ordem cronológica,revelam, por certo,significâncias de sua alma, de suas acontecências de vida.Significantes e significados alcançam uma extensão deliciosa em sua Poesia sutil e profunda.Sua trajetória poética.

Sua alma tem sempre algo de oriental, quando,por exemplo,escreve haikais (relembro:em um de seus livros ,de haikais,esse chamado"Grão de Arroz",é que o prefaciador chamou de "hakayedas"(*), tal a força de estilo que ela imprime neles).

Seu livro de estréia foi "Entre o Rosa e o Azul, logo premiado com o Prêmio de Literatura Cidade de Belo Horizonte".Cada um, além das nuances naturais de um trabalho escrito com a amorosidade que soi aos poetas, há sempre a marca estilística.

Escreveu ainda:"Palavra ferida",Pêndula","O Rosto do Silêncio",À Beira do outono", "Encostada na Paisagem", além do cito "Grão de arroz."

Quando fiz meu e-book "Orvalho" de haikais,novamente liguei-lhe e ela escreveu o prefácio.

Há tempos, não a vejo.mas sempre que abro um de seus livros, parece -me ouví-la, a ela, que escreve, canta e toca.Encanta.

CANTATA ficou guardado, pois mudei de casa e muitos livros permaneceram unidos em berços de caixotes.Agora, cá está esse primor à minha frente.

Hoje, escrevi uma poesia , a pedido de Cath Roos para uma série, chamada "Grita, poeta".Depois a postarei aqui.Uma Poesia de muitos versos.Já Yeda, na página 20 que acabo de entreabrir, nos dá esse exemplo de concisão:

RETRATO
(Y.P.B.)

"Da cabeça
pesados fios de memória
escorrem sobre os ombros.

No oceano dos olhos,
cristais soprados
pelas salinas da alma.

Na boca, em pedaços,
um grito guardado"


A sutileza das metáforas leva ao banquete vivencial.Meu lado psicóloga as interpretaria à exaustão.Meu lado poetisa se enternece e ,dessas "salinas da alma", chegam-me os cristais líquidos.Belíssimo exemplo de sua verve, de seu estilo....

Vejam a maestria desse outro retrato, esse, de outrem, ao qual se identifica a poeta, para interpretá- lo:

"NO QUARTO
(Y.P.B.)

Penumbra e silêncio.
A cama dorme.
A cômoda,
grávida de roupas inúteis.
Sonhos exautos fogem
pelas frestas da porta.
E um homem
abraçado á solidão
aguarda."

Seu olhar feminino está ali,claramente pousado em uma cômoda, à qual atribui o animismo,o caráter humanizado:"a cômoda,/grávida de roupas inúteis"(...)Por que as rouas antes utilitárias,agora estão inúteis?para que finalidade foram compradas?Fossempeças íntimasfemininas, fácil deduzir:ah, para sedução...Mas o sujeito da solitude, é do gênero masculino.Quem não está aí para abraçá-lo?E se a solidão o ampara, até quando? E o verbo final,apoteótico:ele "AGUARDA".A condição humana desvendada nesse pequeno espaço verbal:seres que esperam,as pessoas.E a Poeta nos sabe.E se sabe.

Pianista, cantora,Yeda traz a Música imprescindível para seu próprio ritmo poético.Não é do nada que CANTATA foi subdividido assim:ANDANTE,TEMPO GIUSTO,ALLEGRO,DOLCE,PIANÍSSIMO...Medidas dos tempos musicais, de forma alegórica para esses versos...

Yeda tem impulsos que derrama pelo livro, todos acertados,veja,:

QUASE HAIKAI
Y.P.B.)

"Do beiral dos dias
cai sobre mim
tênue chuva de estrelas:

estou molhada de luz."

Tem-se a impressão de que ia ser um haicai,mas ela precisou dizer algo mais,o que estava sentindo, essa bela imagem de estar umedecida pela LUZ.Do haikai tradicional, com sementes de Basho,Yeda Prates bernes guarda a singeleza, a força das estações, a leveza.Mas já em Grãos de Arroz, dá o recadodo gênero poético, mas nem sempre segue a norma de 5,7,5 silabas poéticas nos versos.Alguns sim , alguns não.

É imbatível nos tercetos, poetrix espontãneos a que dá á luz.Cada um mais plúmeo:

Na poça d'dágua
o gato lambe
a gota de lua.

**********
Inútil.A gaiola
nunca aprisiona
as penas do canto.

**********
Branco instante
entreo verde e azul:
garça ou pensamento.

***********

E, para fechar (voltarei a comentar as Yedicências mais tarde,outras vezes,tantas quantas meu coração peça) , este belíssimo:

RESGATE


O pai a mãe
girassol violeta.
A Mãe Preta, mater dulcíssima.
"spes nostra",salve!
O cão lambe
a solidão da infância.
O sino da matriz
asperge em sons
a poeira das ruas.
a primeira comunhão,
fogo fátuo no coração menino.
Coral de passarinhos
na mangeuira
arrepia o silêncio da tarde.
O incenso no fogão de lenha
tortura as almas em cinza.
A perdiz,a codorna, o nhambu
aguardam, já frios,a depenagem.
E o depois não chega
a não ser pela folhinha na parde,
flor esmaecida de um tempo
que, lentamente,na memória
se desfolha."

Percebe-se, por toda a caminhada poética de Yeda, esse arguto olhar sobre o tempo, as estações, as fases de vida.Talvez por isso mesmo, seja uma haikaista hábil na medição da temporalidade . E todos os seus pesos são plúmeos,sempre digo.

CANTATA traz impressionante fortuna crítica,de Drummond a Alphonsus de Guimarães,de Antonio Cândido de Mello e Souza a Francisco Carvalho,a de Abgar Renaut a Bartolomeu Campos Queirós, de Affonso Romano de Sant'Anna ,do romancista Cyro dos Anjos ao querido Fernando Sabino,Francisco Carvalho a João Luiz Lafetá - e mais: o experiente José Afrânio Moreira Duarte, o admirado Manoel de Barros,o incisivo Ivan Lins,o constelado Márcio Almeida,o sensível,Paschoal Motta,e encantado Pedro Nava,o criativo Oswaldino Marques("haikaydedas!).Caio Porfírio Carneiro chama a cada um dos grãos de arrozz "trinta e seis jóias" de um colar, o livro.
Esse baú de madrepérola encastoada em madeira de lei, da Fortuna Crítica, tem chave de ouro com a doce e sábia Henriqueta Lisboa sobre "ENTRE O ROSA E O AZUL":"POESIA PARA HABITAR OS CORAÇÕES".

Quanto a mim, não posso deixar de transcrever Silviano Santiago:

"Curiosa a ambivalência do haicai que você pratica:ao mesmo tempo em que pratica :ao mesmo tempo em que corta como lâmina fria o cerne do poético , abre espaço para o lento fluir do devaneio
pelos labirintos do inconsciente"
(sobre "Grão de Arroz")


(*) Fortuna crítica:João Lafetá:
(...)"Impregnei-me de seus haikayedas".

Por clevane pessoa de araújo em 07/02/2007 às 11h12



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Quem é: Clevane Pessoa

Escrever à autora


Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Escritora, Poeta, psicóloga. Belo Horizonte - Brasil

Retomei a vida literária em 2000-e de lá para cá, participei de cerca de 20 coletâneas de textos literários, inclusive o livro “Adolescente-Aspectos Clínicos e Psicossociais”, organizado pelos drs. em hebeatria , Maria da conceição de Oliveira Costa e Ronald Pagnocelii, sendo co-autora dos capítulos de Sexualidade na Adolescência e Homossexualidade. Tenho escrito em jornais e revistas, participado de programas de rádio e TV, congressos, cursos, oficinas, feito palestras e conferências, como psicóloga ou escritora.


(Texto Publicado
A originalmente no Jornal Ecos (organizado no Brasil, por Vânia Moreira Diniz) :http://www.jornalecos.net/pessoa.htm

Outros textos meus neste belo jornal virtual-cuja ausência agora,lamentamos.Bonito,um costume de Vânia Diniz, clean e capaz deagregar renomados e desconhecidos com a mesma generosidade:


N°26: Pelos Caminhos da Vida e Da Alma... N°27: A PRIMEIRA FEMINISTA FOI A PRIMEIRA MULHER... N°28: Desmoiselles" e um antigo colega de Redação,José Luiz Dutra de Toledo... N°29: Os Anjos de Milinha (infantil)... N°35: Pés Erotizados... N°38: A Poesia abraça a Música... N°39: A-No/RE/xia (I)... N°40: Trovas na Parede & Pichação e Grafitagem... N°41: SEXUALIDADE E MATURIDADE... N°42: Primeiro vínculo afetivo-sexual... N°43: Poesia Viva... N°44: O complicado Poder de Sedução da Mulher... N°45: ATOR NÃO TEM IDADE DE ALMA,TEM IDENTIDADE DE ALMA... N°46: Haikais Concretos... N°47: Entrevista com o Maestro Andersen Viana... N°50: Profissão: Poeta... N°54: Ilha de Fernando de Noronha-Rememórias (I)... N°55: Palavras Para Ser Feliz... N°56: PRATICAR-SE:A ARTE DE ENCONTRAR O OUTRO... N°57: Profissão: Poeta "
Postado por Clevane Pessoa e Outras pessoas às 21:16 0 comentários
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